No rules on rules
PROPOSTA NO RULES ON RULES
Consiste no uso de camisas brancas com as letras N e O impressas (por processo de silkscreen), alternadamente, na parte da frente e na de trás de cada uma. É um trabalho que conta com a participação de convidados presentes no evento, em data e local estipulado. São necessários, no mínimo, 11 participantes. No encontro no MAC – Niterói foram utilizadas 33 camisas em tamanhos diferentes.
Para cada convidado foi entregue uma letra que compõe a palavra RULES ou a palavra REGRAS, construídas em madeira leve com cerca de 1 metro. Esses convidados chegaram ao local na data e horário previamente determinado, vestindo a camisa e trazendo cada uma a letra que lhe foi confiada. No evento, essas pessoas se reuniram, escreveram as palavras Rules e Regras juntando as letras transportadas, celebram o acontecimento (encontro) comendo, bebendo e compartilhando o que cada um trouxe. Recolheram as letras e foram embora. O evento ocorreu na área externa do Auditório do Museu de arte Contemporânea de Niterói (no pátio do Museu) como parte do Encontro ANPAP Sudeste de Jovens Pesquisadores 2018 [ESTADO DE ALERTA].
Nos instantes de compartilhamento dos alimentos e bebidas e em outros da ação, as palavras NO e ON, formadas pelos movimentos dos corpos se juntam na mente dos participantes às palavras RULES E REGRAS, formadas pelas letras carregadas e deixadas sobre o solo (ou em local próximo). Os presentes, ao formarem a frase “No rules, On rules” (e o equivalente em nossa língua, ainda que mal-entendidas como regras “ligadas” e “no” regras), percebem a implicação dos corpos em movimento na formação das palavras e sua relação com o espaço (e tempo, no caso sugerido pela fugacidade da formação das palavras). É possível ainda a compreensão de uma associação sugerida pela experiência à ambiguidade apresentada pelo que chamamos de arte: não possui regras para ser feita, porém se torna sujeita a julgamentos e regras, mais ou menos explícitas e variantes segundo a época e o momento em que for realizada. A apresentação envolvendo o museu de arte contribuiu como uma sugestão para essa associação. Essa questão foi discutida verbalmente nas conversas sobre o trabalho, assim como a questão de regras em nossas relações cotidianas, e essa relação com o espaço-tempo foi destacada.
Essa proposta, com a realização da experiência de percepção visual e verbal concomitante, pretende possibilitar aos participantes transcenderem o sentido atingido, tanto através da simples visualidade da ação quanto da leitura da frase. Esse experimento é parte de pesquisa de tese de doutorado Palagens, que considera o instante de tempo de compreensão na recepção e percepção das propostas de arte no limite da relação entre o verbal e o visual. Instante referido na pesquisa Palagens como de “tempo estriado”, ou seja, o momento em que se daria a percepção transcendente, ou de algo mais do que a soma das percepções do verbal e do visual isolados. O termo tempo estriado foi proposto como analogia ao termo “espaço estriado” de Gilles Deleuze e Felix Guattari. Nessa lógica, ao espaço liso (também postulado por esses pensadores) corresponde o tempo liso, considerado como o tempo cronológico.
Portanto, esse acontecimento pretende possibilitar tal experiência de tempo estriado, capaz de provocar em seu entendimento durante a ação (sua entendimentação) a sensação muito breve e fugaz de ausência da percepção do espaço circundante, lembrando e guardadas as devidas proporções, a descrição de Michael Fried, considerada para a vivência de tempos estriados, e dependente do tempo cronológico da experiência, do tempo liso, como considerado com base no pensamento de Robert Morris. Essas experiências perceptivas explicitadas e confrontadas no debate dos anos sessenta conjugam-se como ferramentas para o objetivo da proposta. Assim sendo, implica no paradoxo da provocação ao tempo (e espaço) estriado ser dependente de uma ação no tempo (e espaço) liso. Logo, o instante perceptivo destacado por Fried depende, para ser alcançado nesse acontecimento, do tempo da vivência do trabalho, de sua interação com o receptor (público) e do tempo cronológico em que o acontecimento se dá, como considerado no pensamento de Morris. Desta forma, a proposta objetiva tornar possível tal percepção e entendimento.
Uma proposta embrionária desta foi realizada experimentalmente em 2015. Constou de 10 camisas (em tamanhos diferentes). Foi referida na publicação Abrigo Portátil, 2016, da editora Meduza (Iluminuras).
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